quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Grupos

CONSIDERAÇÕES SOBRE GRUPOS

Por Barbara B.Valle Otoni

“Na gíria atual, dizer que uma situação "é grupo" é falar em "armação, cilada, mentira", ou ainda em "rede de intrigas". E por quê? .

Relacionar estas palavras em torno da idéia de grupo, é possível porque parece que embora a idéia aceite variadas associações, é consenso que este tema carrega grandes desafios. Pensar em grupo, não em agrupamento, é pensar em relacionamentos e interações. .

Falar em relação, por sua vez, implica sempre colocar em jogo histórias reveladas e não reveladas de cada membro de um grupo. Envolve desejos manifestos e outros inconscientes, que nunca serão conhecidos, mas que fazem cada sujeito agir, aproximar ou afastar-se do outro. Afinal, embora os grupos tragam também, o embrião da criação e do crescimento, estar em grupo não é fácil e nem algo para o qual se esteja disponível ou preparado, sempre. Mas é imprescindível que se reflita sobre ele, pois somos confrontados inevitavelmente por diversas situações grupais: vivemos em grupo, trabalhamos com grupo e trabalhamos em grupo. .

A primeira situação é constituinte, pois nascemos numa família, num certo local e num tempo histórico: esta é a nossa bagagem. Os outros grupos que escolhermos pertencer, ajudarão a recompor esta primeira matriz: o grupo interno .

A segunda invoca nossa criatividade e curiosidade - imaginemos, como ilustração, um grupo de diferentes adolescentes como alunos. Como ensinar um grupo com tais traços? .

A terceira, aquela que nos interessa aqui, é por princípio desafiadora. Exige disponibilidade e disposição, conhecimento dos nossos movimentos, para conhecer os dos outros. Capacidade de escuta, paciência e muita "transpiração". E o mais interessante, é que quando trabalhamos em grupo, carregamos sempre, explícita ou veladamente as outras experiências. (M. Teresa Carvalho)”

No grupo aprendemos o que é a felicidade e o que é a dor. No grupo nos humanizamos. No grupo nos descortinamos, caem-se os véus, mas paradoxalmente, em grupo, aprendemos os segredos e as artimanhas da colocação dos véus. O grupo é um complexo e emaranhado mundo de sentimentos e representações, mais ou menos inconscientes. Palco das fantasias, de ataque e defesas, de entregas e descobertas, de expectativas e desilusões, de surpresas e maravilhas, tudo cabe neste cenário luminoso. Em um grupo tudo se confunde: as procedências, as tonalidades, as direções.

Todos vivem em grupo, ninguém escapa desta experiência intensa e assustadora. Em nosso primeiro grupo, o familiar, construímos os alicerces que funcionarão como uma paisagem interna através da qual, olharemos para o mundo. No segundo grupo, a escola, começamos imediatamente a participar da construção dos alicerces, fazendo marcas na paisagem. Cada grupo novo vai compor esta cena, podendo borrar contornos ou figuras, destacar movimentos ou simplesmente apagar as cores. Somos seres grupais e lutamos incessantemente para descobrir a boa distância que devemos guardar do outro para não sufocá-lo, para não espetá-lo, para não abandoná-lo e para mantê-lo aquecido. Buscamos em nossos grupos, um lugar onde possamos ser reconhecidos em nossas potencialidades, estilos e características, onde possamos ser incentivados, acolhidos, impulsionados, onde possamos receber calor sem nos queimar. .

“Na construção desta experiência experimentamos pressionar e ser pressionado, cutucar e ser cutucado, criticar e ser criticado, esperar algo do outro e receber expectativas dele, fundir e ser separado, olhar e ser olhado, apoiar e ser apoiado, incentivar e ser incentivado. Experimentamos limitar e receber limites, liderar e ser liderado, brigar e calar. Nesta profusão de fenômenos, somos constantemente convidados a reagir, a decidir, a fazer escolhas. Assumir que nossa reação é uma escolha e portanto nossa responsabilidade, exigindo um movimento interno de implicação, que significa o reconhecimento da nossa parte na construção daquela cena, da qual muitas vezes nos queixamos, como se fôssemos apenas vítimas. Sempre é mais fácil acusar o outro do que ele fez ou deixou de fazer, apontar-lhe as faltas, distraindo-nos das nossas. Com o outro esperamos tudo conseguir, esperamos apaziguar as diferenças, desejamos complementar os nossos espaços em branco e nos colocamos na tarefa insana de juntar poentes e madrugadas. Poderíamos, numa outra posição, recomeçar?” (Juliana Davini )

Para Pichon-Rivière, os grupos terapêuticos não são uma espécie distinta dos demais grupos sociais. O grupo, então, é uma experiência social, ocupando um lugar de experimentação da “interação”. Destaca-se então, a definição de grupo por suas características de interdependência. Um resultado terapêutico bom, implica na necessidade do grupo manter sua identidade grupal, aliada a uma maior flexibilidade. É importante para o grupo, reconhecer o valor dos subgrupos e os limites destes; valorizar seus membros, considerando que a mobilidade de cada um se limita pelas condições dadas pelo próprio grupo.

O grupo tem sido disputado por várias ciências: a psicologia, a psicologia social, a sociologia são alguns exemplos. De uma maneira geral poderíamos dizer que o enfoque sociológico aborda o grupo como elemento de uma estrutura maior, a versão psicológica atenta ao individuo dentro do grupo. Schilder, Simmel, que fazem parte da corrente psicanalítica entendem o grupo como meio de transformação dos indivíduos. Lewin e Moreno estudaram o grupo de uma maneira onde aspectos psicológicos e sociológicos se fundem.

Para a psicologia social a noção de grupo remete-nos pelo menos a duas situações:

 A que chama de grupo um conjunto de pessoas conhecidas que se reúnem por ou para alguma coisa. É uma situação indeterminada com dois referentes: um problema comum e o conhecimento entre as pessoas;
 A que resulta do emprego de determinadas técnicas que permitem o esclarecimento de problemas e a determinação de conceitos empíricos. Trata-se de uma situação tautológica em que a noção de grupo se articula com uma técnica e esta com a noção, numa fundamentação recíproca.

Ainda encontramos os grupos operativos, que é um grupo de aprendizagem. É um novo espaço didático. Falar de aprendizagem implica falar em informação, emoção, produção. Quando falamos de informação não nos referimos àquele tipo que é o do conhecimento oferecido a um registro de memória, mas à informação que leva em conta o contexto. Isto é, o contexto sócio-econômico-cultural em que a aprendizagem se desenvolve e a consciência da influência desse ambiente no próprio processo, incluindo a mudança de expectativa em relação ao sujeito – de passivo a ativo. Este grupo se caracteriza por estar centrado, de forma explícita, em uma tarefa que pode ser o aprendizado,a cura, o diagnóstico de dificuldades etc.

Na terapia de crianças, parece fundamental o funcionamento de grupos terapêuticos de pais, buscando tornar sensível o contraponto do que se observa no grupo das crianças: o pai e a mãe devem poder perceber qual é o seu desejo, que lugar nele ocupa seu filho, e por que o tentam capturar deste modo. Muitas vezes, através do trabalho com os pais, conseguimos desvendar o que demandam e o que é que de fato desejam.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FRITZEN, S.J. Exercícios práticos de dinâmica de grupo, RJ: Ed Vozes, 2ª edição, 1981

BAREMBLITT, G. Grupos: teoria e técnica, RJ: Edições Graal, 2ª edição, 1986

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